O dia em que minha raiva virou trono
- Aeluriah
- 10 de mai.
- 2 min de leitura
Atualizado: 14 de mai.

Me ensinaram a esconder minha raiva.
A sufocar no fundo da garganta.
A disfarçar com palavras bonitas e sorrisos contidos.
Disseram que era feio, exagerado, “difícil de lidar”.
Mas ninguém viu o que tinha por trás dela.
Não era só fúria.
Era limite atravessado.
Era amor não reconhecido.
Era força tentando existir num mundo que só aceitava submissão camuflada de doçura.
Por muito tempo eu engoli.
Por medo de parecer agressiva.
Por medo de afastar quem eu queria perto.
Por medo de ser deixada, mais uma vez, por ser “demais”.
Mas um dia, não engoli mais.
O dia em que minha raiva virou trono.
Um dia, olhei pra minha raiva e entendi:
ela não era minha fraqueza. Ela era minha rainha esquecida.
Era o grito da minha dignidade.
Era a espada da minha consciência.
Era a parte de mim que ainda queria me proteger, mesmo quando eu não me protegia mais.
E naquele dia, eu parei de pedir desculpas por ser intensa.
Parei de abaixar o tom pra caber.
Parei de disfarçar com espiritualidade o que era puro instinto de sobrevivência.
Eu sentei no meu trono.
E deixei minha raiva virar discernimento.
Deixei minha dor virar presença.
Deixei minha história virar território sagrado.
Hoje, se eu falo firme, é porque sei o que acontece quando fico em silêncio.
Se eu me imponho, é porque cansei de ser cenário no palco de gente rasa.
Se eu deixo pra trás, é porque aprendi que nem todo mundo merece a versão que sangrou pra se construir.
Minha raiva não me domina mais.
Mas ela me lembra todos os dias quem eu nunca mais vou ser.
Mari kuste / Aeluriah
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