O Ego Moderno Está de Salto

Existe um novo tipo de ego circulando por aí. Um ego que medita, toma chá de ayahuasca, lê Jung e fala sobre limites emocionais com vocabulário terapêutico na ponta da língua. Ele não grita, não xinga, não perde a linha

mas cancela, bloqueia, distorce. Um ego que não bate boca: ele dá palestra.

O ego moderno não se satisfaz mais com status, dinheiro ou beleza. Ele quer ser especial. Diferenciado. Curado. Ele quer ser o mais ético, o mais consciente, o mais alinhado com a própria missão de alma. O novo ego não quer só vencer

ele quer vencer e ainda parecer humilde.

Só que por trás do salto alto energético, muita gente continua infantil, frágil, competitiva, reativa. A diferença é que agora se esconde tudo isso atrás de palavras bonitas. Já não se pode ter um conflito, uma crítica ou um desentendimento sem que alguém saia dizendo que está “se protegendo de energias densas”.

Tudo virou linguagem terapêutica. A frieza virou “autopreservação”. A indiferença virou “limite saudável”. A arrogância virou “amor próprio”. O ego ficou afiado

agora ele se camufla de consciência.

É mais fácil apontar a sombra do outro do que encarar a própria. Mais fácil falar de energia do que reconhecer quando se foi tóxico. Mais confortável se isolar dizendo que “ninguém vibra na sua frequência” do que admitir que não sabe mais como se conectar de verdade.

O ego moderno está de salto. E cada salto tem um nome bonito: autoconhecimento, autocuidado, autodefesa. Mas quem olha bem vê: é o mesmo ego de sempre. Só trocou de roupa.

— Aeluriah