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Precisamos Falar Sobre Kevin — ou sobre a dor que ninguém quer nomear

Atualizado: 12 de mai.

imagem do filme precisamos falar sobre kelvin
Precisamos Falar Sobre Kevin — ou sobre a dor que ninguém quer nomear

Logo no início do filme, a gente percebe:

essa não é uma história confortável.

É uma história sobre culpa, silêncio, maternidade não idealizada, e sobre o que acontece quando ninguém consegue falar o que tá realmente sentindo.


Eva (Tilda Swinton) é uma mulher que teve um filho, Kevin — mas não teve, de verdade, a escolha emocional de ser mãe.

Ela engravidou, teve o menino, fez o que era “certo”. Mas desde o começo, ela não se conecta com ele.

O bebê chora o tempo todo.

Ela não consegue acalmar.

Ele não parece querer ser acalmado.

E isso só cresce.


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O filme mostra Eva tentando cumprir o papel de mãe, enquanto Kevin, desde criança, se mostra… diferente.

Ele não sorri pra ela.

Ele a provoca.

Ele manipula.

Às vezes, parece que ele sabe exatamente como fazer Eva se sentir uma fracassada.

E ela sente culpa por não amá-lo da forma que o mundo espera — mas também sente raiva.

Medo.

Desespero.

Uma solidão absurda dentro da própria maternidade.



E o pai?

O pai é o tipo de homem que finge não ver.

Ele é a negação em forma de gente.

Quando Eva diz: “tem algo errado com o nosso filho”,

ele responde com um sorriso e diz:

“Ele é só uma criança.”

Mesmo quando Kevin destrói coisas.

Mesmo quando manipula.

Mesmo quando o clima dentro da casa é de guerra fria.


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O pai, como muitos, escolhe o papel de “bonzinho”.

Mas a omissão dele também é violência.


Enquanto Eva enlouquece sozinha, ele se mantém confortável —

acreditando na ilusão de que tudo vai melhorar.

Que Kevin vai crescer.

Que tudo é culpa da sensibilidade da mãe.


E quando a tragédia acontece, é tarde.

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O tempo todo, a gente se pergunta:

Kevin nasceu assim? Ou se tornou assim por causa dela?


E a verdade é que o filme não dá uma resposta pronta.

Porque talvez não exista uma.

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Kevin é a sombra materializada

Ele cresce, se torna cada vez mais frio, cruel, e aos poucos a tensão vira um sufoco psicológico.

Até que ele comete um massacre.

É isso.

Kevin, adolescente, mata colegas e professores da escola — e também o pai e a irmã mais nova.

E deixa Eva viva.

Ela.

Só ela.


O filme é contado em flashbacks, costurado com a vida de Eva depois da tragédia: isolada, rejeitada, humilhada por todos. E ainda assim… voltando à cela para visitar o filho.

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E o mais incômodo: a gente sente mais por ela do que por ele.

Porque Kevin é um vazio.

Um buraco negro emocional.

Um filho que nunca permitiu o vínculo — ou que, talvez, nunca recebeu o que precisava para criá-lo.

Mas Eva…

Eva é a mulher que carrega o peso do que não conseguiu sentir.

Ela é o retrato da mãe real — não a idealizada.

A mãe que, em silêncio, se pergunta:

“se eu tivesse amado mais… ele teria sido diferente?”


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O filme fala sobre maternidade. Mas fala sobre trauma também.

Sobre como o não-dito cria monstros.

Sobre como a dor pode passar de geração pra geração quando ninguém fala, ninguém acolhe, ninguém sente de verdade.

Kevin é a dor crua.

É a raiva silenciosa que cresce dentro de uma criança que percebe que é rejeitada — mesmo que ninguém diga isso em voz alta.

E é também a dor da mulher que foi engolida pela culpa, pela obrigação, pela solidão, e não conseguiu sair a tempo.

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Depois da tragédia, vem a crucificação.

Eva sobrevive.

Mas vira a inimiga pública da cidade.

Jogam tinta vermelha na casa dela.

A encaram no mercado como se ela fosse o próprio demônio.

Ela tenta viver.

Mas vive como fantasma.


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Porque na cabeça das pessoas, ela deveria ter feito algo.

Ela deveria ter impedido.

Ela deveria ter sido a mãe perfeita.


Só que ninguém sabe como é viver anos sendo engolida por um filho que te odeia.

Ninguém sabe o que é acordar todos os dias com medo do que aquele olhar vai fazer.

Ninguém viu as tentativas.

As noites em claro.

As conversas no escuro.

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E agora, todo mundo julga.

Todo mundo aponta.

Todo mundo tem uma opinião.

Porque julgar a mãe é mais fácil do que aceitar que o mal pode nascer dentro de casa…

e ninguém saber o que fazer com isso.


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E Kevin?

Kevin é o reflexo da sombra não integrada.

Do afeto não sentido.

Do vínculo que nunca existiu.

Ele é o que acontece quando a dor é negada por tempo demais.

Quando a raiva é reprimida até virar arma.

Quando ninguém tem coragem de dizer: “isso aqui não é amor.”

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E o mais doloroso?


Ele mata todos.

Menos ela.

Como se dissesse:

“Você vai viver com isso.

Você vai me olhar.

Você vai lembrar.”

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No fim, esse filme não é só sobre ele.

É sobre ela.

É sobre o quanto a gente exige das mães.

É sobre como a gente escolhe os vilões.

É sobre tudo o que a gente varre pra debaixo do tapete e finge que não existe —

até que exploda.

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Precisamos falar sobre Kevin.

Mas também precisamos falar sobre:


  • A negação do pai.

  • A solidão da mãe.

  • O julgamento dos vizinhos.

  • A violência emocional disfarçada de normalidade.

  • E a verdade que ninguém quer escutar — até virar tragédia.

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No fim, a pergunta não é só “o que aconteceu com Kevin?”

A pergunta é:

o que acontece com as famílias onde ninguém pode ser sincero?

O que acontece quando a maternidade é uma prisão?

Quando a criança é um espelho que ninguém quer olhar?

Quando todo mundo finge que tá tudo bem… e a dor vira silêncio?


E você? Já assistiu Precisamos Falar Sobre Kevin?

Foi um daqueles filmes que te deixaram desconfortável também?

Porque pra mim, esse desconforto é o que torna ele tão necessário. Tão real.

É um filme que mexe com camadas que a gente nem sempre quer encarar… e talvez por isso mesmo ele fique tanto tempo na mente e no corpo.


Quero saber o que você sentiu vendo.


Até a próxima.


— Mari Kuste/Aeluriah




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