Quando perder tudo é o início do que você nunca ousou ser
- Aeluriah
- 16 de mai.
- 2 min de leitura
Atualizado: 25 de mai.

Às vezes, a vida te arranca pela raiz com a delicadeza de um trovão.
Você pensa que está morrendo — e talvez esteja.
Mas não do jeito que imagina.
Quando perder tudo parece o fim, pode ser apenas o início.
É um parto sem anestesia.
É a alma sendo arrancada do molde antigo porque não cabe mais ali.
E grita.
Grita com a fúria de quem ama o que foi, mas sabe que não pode mais voltar.
Você tenta agarrar cacos — os hábitos, as pessoas, os nomes que vestia —
mas eles cortam sua mão.
Sangra.
Porque já era.
Acabou.
A dor de perder tudo é a dor de descobrir que não era seu.
Ou que não é mais.
Ou que nunca foi.
Você só estava morando na pele de um sonho emprestado, tentando caber num espelho torto.
E então vem o vazio.
O chão que desaparece.
O silêncio que zomba.
Você não sabe quem é.
Não sabe pra onde ir.
E tudo parece inútil, exagerado, insuportável.
Mas há algo sagrado na ruína.
Algo que os olhos não enxergam quando ainda temos coisas demais para carregar.
Porque a alma — essa entidade selvagem —
precisa de espaço pra dançar.
É quando você perde tudo que sobra só você.
Sem maquiagem emocional.
Sem títulos.
Sem desculpas.
Só a carne viva do que sente.
E é ali, exatamente ali, no poço mais fundo,
que a centelha se acende.
A perda é uma fornalha.
Ou você queima e some —
ou queima e nasce.
Não é bonito.
Não é poético enquanto acontece.
É caos, é desespero, é inferno interno.
Mas é real.
É limpo.
É a verdade sem véu.
E você vai olhar no espelho, um dia,
com os olhos de quem sobreviveu à própria demolição,
e dizer: eu sou feita de tudo que perdi.
Porque às vezes,
perder tudo é o preço de se tornar tudo o que você é.
— Mari Kuste / Aeluriah
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