Renascer é morrer sem parar

Tem gente que acha que renascer é acordar leve, com um sorriso novo no rosto. Mas quem já quebrou de verdade sabe que não é assim. Renascer, na real, tem mais a ver com apodrecer por dentro. Com noites longas em que o silêncio machuca. Com o tipo de vazio que não dá resposta, só ecoa.

Crise existencial não tem glamour nenhum. É um parto sem parteira. Você grita e ninguém escuta. Você sangra e ninguém vê. E quando pergunta “pra quê tudo isso?”, nem a sua alma responde. Parece que você foi engolido por um buraco e tudo o que você achava que era começa a desmanchar.

E por mais insuportável que pareça, isso também faz parte. Porque o que morre ali não é você. É a mentira que você carregava achando que era identidade. É o papel que você decorou, a armadura que virou pele. Morre o que sorria por fora enquanto te engasgava por dentro.

O renascimento não vem como uma luz suave. Ele vem escuro, úmido, denso. Te obriga a sentir o que você passou a vida tentando evitar. Faz você parar de fugir de si.

Renascer é olhar pro que sobrou depois do estrago. É encarar a essência, crua. É deixar o velho morrer berrando. É enterrar o ego machucado e deixar nascer alguma coisa que ainda não tem nome.

E aí, em algum momento, sem aviso, você percebe que algo começa a pulsar. Não é exatamente alegria. Nem paz. Mas é presença. Você está aqui. Você existe. Mesmo sem saber quem é. Mesmo sem ter entendido nada.

E isso basta. Porque quem renasce não quer mais respostas embaladas. Quer sentir. Quer viver sem anestesia. Quer ser inteiro, mesmo que bagunçado.

Então se você está nesse lugar seco, silencioso, onde tudo parece ter perdido o sentido… respira. É sinal de que você está nascendo de novo. E dessa vez, talvez, pela primeira vez, como você realmente é.

— Aeluriah